SENTAR NUM DOS BANCOS ,A SOMBRA DESTA FIGUEIRA É BOM DEMAIS.
A FIGUEIRA CENTENÁRIA
PASSEAR NA CAPITAL
O que hoje é um vapt vupt, no passado era uma grande viagem.
Vencer os 150 km que nos separavam da capital ,era mesmo uma
grande travessia. Hoje em dia até de bicicleta se faz esta viagem no
mesmo tempo que o ônibus levava antigamente.
As estradas não eram pavimentadas, eram estreitas ,e bem sinuosas .
O ônibus andava bem
devagar, e não tinha muito conforto, era barulhento e tinha um cheiro forte de
óleo queimado, mesmo com todas as janelas
abertas. Muita gente passava mal, ficava enjoada. Era a muito comum
o motor do ônibus ferver. O motorista mais precavido já levava
água em um latão para estas emergências. Os pneus furavam e tinham que ser
trocados. Geralmente isso era feito pelo motorista com a ajuda do cobrador e de alguns homens de
boa vontade. Muitas vezes esta viagem
começava de manhã e só acabava a noite.
E quando tudo estava dentro do cronograma ,o ônibus fazia uma paradinha
em cada cidadezinha.
E mais ou menos no meio deste trajeto tinha uma parada
maior. Todos desciam do ônibus para fazer um lanche ou almoçar e também ir ao banheiro. Depois a viagem continuava.
E mamãe ia falando
de morros que nós iríamos ver e que o da Cambirela tinha mais de mil metros de
altura e em 1942 nevou e parecia que o
morro tinha um chapéu branco. Isso foi muito lindo.
Finalmente ,quando se avistava a ponte Hercílio luz ,era uma
grande alegria. Cruzar a ponte olhando o
mar era mais que uma aventura, era um
premio pela longa viagem. Todos queriam ficar na janela. Na chegada a rodoviária a mamãe cuidava de segurar as
crianças bem firmes pela mão. Já naquele tempo antigo a capital era considerada cidade
grande, e cidade grande sempre foi
conhecida como lugar perigoso.
Na caminhada até a
casa dos nossos avós, passávamos pela
catedral e é claro entravamos para rezar e agradecer a viagem. Depois uma
paradinha na praça XV, para bater uma
foto na grande figueira. O fotógrafo era conhecido como lambe –lambe, eu achava
que era porque eles estava sempre com a boca aberta e com a língua de fora.
Mamãe comparava com as fotos do ano anterior e via que
tínhamos crescido. A foto era em preto e branco, não existiam fotos coloridas
naquele tempo. E mamãe contava a lenda da figueira. Quem queria
arranjar namorado devia dar uma volta ao redor da figueira no mesmo sentido dos
ponteiros do relógio. Andar em redor da figueira 3 vezes fazia a pessoa voltar
sempre a cidade. Que a figueira estava plantada bem na frente da catedral e depois de 14 anos ele foi transplantada para lugar onde está agora...
O mercado publico era
o paraíso das coisas diferentes. Os adultos compravam o que não encontravam no
interior, e as crianças achavam ali as famosas loucinhas de barro, e os piões
de madeira .
Mamãe conhecia uma
famosa rendeira de bilro e sempre levava a gente pra mostrar a agilidade que
ela tinha em tecer toalhas. É claro que também andávamos pela praia catando
conchinhas, para depois levar para nossa coleção. As vezes ficávamos
esperando para ver os pescadores
chegar com seus barquinhos cheios de
peixes, siris e camarões .
Outra coisa que gostávamos de ver era os pescadores puxando a rede. Eles sempre cantavam marcando os passos num mesmo ritmo...
Os peixes pulavam na
areia , os muito pequenos eram
devolvidos ao mar.
Ficávamos lá por lá uns 10 dias, e era tempo suficiente para
esquecer a longa viagem.
E assim depois da missa de Nossa Senhora do Carmo de
acontece no dia 16 de julho começava
a grande jornada da volta. Vovó e vovô
acompanhavam a gente até a rodoviária. Nós entravamos no ônibus e colocávamos a cabeça pra fora da janela esperando para abanar .
Vovô nesta hora esticava o braço e nos dava um pacotão de
balas, e começava a se afastar sempre enxugando os olhos com um lenço todo
amassado.
O motorista falava alguma coisa e começava a viagem.
Mal cruzávamos a ponte já tínhamos comido balas de montão
estávamos com sede.
A nossa sorte é que mamãe já sabia como nós éramos e
levava sempre uma garrafa de água.
Depois a gente se recostava no colo dela e adormecia...
Arlete Trentini dos Santos
Como é bom recordar o passado e registrá-lo para nossos descendentes.
ResponderExcluirAs suas referências sobre o "figueirão" da Praça me fez lembrar daqueles aposentados que lá passavam o dia todo, apelidando os passantes que enxergavam: tinha um velhinho todo encarquilhado que não hesitaram de chamar "maracujá de gaveta"...